Ian
estava olhando para uma prateleira de anéis de silicone com o cenho franzido e
tinha a impressão que ele queria me dizer algo.
− Como
você consegue trabalhar aqui? – Ele perguntou pegando um anel com bolinhas a
sua volta e colocou em seu dedo. – Aqui diz anel massageador, mas não parece
que sirva para muita coisa.... – E não servia, uma era por que o “Anel Massageador”
não era bem para massagear , nem para por no dedo...
−
Trabalho só nos fim de semana para ter dinheiro para sair e... – Disse sentindo
minhas bochechas queimarem. – Isso é uma anel peniano, você não põe no dedo...
– Dizendo isso Ian tirou o anel um pouco envergonhado e colocou no lugar.
− Para
que alguém ia querer isso? – Não era uma pergunta e sim uma afirmação.
Eu queria dizer que servia para segurar a
ereção por mais tempo, mas não queria que ele pensasse que eu sabia demais
dessas coisas por que as tinha usado, ainda mais por que ele poderia pensar que
tinha usado essas coisas com o irmão dele.
− Eu
não sei. – Disse ao invés. – As pessoas são doidas.
Um silencio desconfortante ficou entre nós
e senti que agora a cobra ia fumar. Ian olhou para o lado de onde Dylan e eu
havíamos conversado e disse:
− Então
foi aqui... Num sexy shop.
Ele disse me fazendo parecer uma criança
estupida, mas de certo modo eu fui. Aquilo foi só uma coisa de momento e eu achei que gostava de Dylan, mas ele só
era uma casca. Algo bonito de olhar e sem muito conteúdo .
− Doido
não?! – Disse tentando fazer parecer uma coisa menor do que era realmente. –
Foi uma bobagem, algo de momento.
Ele
riu, mas não por que achou graça. Ele estava irritado. Muito irritado.
−
Perder a virgindade não é uma bobagem ou algo de momento. Ninguém esquece a
primeira vez...
Ele tinha razão. Eu não ia esquecer, mas era
só isso. Aquilo tinha ficado para trás e só, somente uma lembrança de alguns
meses atrás.
− Na
hora foi importante, mas isso não importa agora. Eu não me sinto como antes, as
coisas mudam, além do mais...as mulheres não esquecem por que dói e muito – Ian
tentou olhar para outro lugar, mas tudo que ele consegui ver era brinquedos,
fantasias, filmes, tudo do mundo erótico e isso fazia o lugar ser insuportável.
− Você
deve ter lá seu passado também... – Ele não respondeu, mas sua postura mudou e
seu corpo ficou tenso. E isso me deu a impressão que ou o passado dele envolvia
alguém importante ou que ele não tinha...
No lugar de responder ele disse:
− O que
você disse la, é verdade?
− Sim. –
Respondi e ele tentou esconder um sorriso, um sorriso que consegui ver antes
dele conseguir virar o rosto.
− Então
me diz o que você gosta. – Simples , sincero e rápido. Senti minha garganta
secar. Ele estava perguntando do que eu gostava dele ou era algo intimo que ele
estava perguntando ? optei pela opção menos vergonhosa.
− Eu
gosto quando você esta jogando basquete com aquele uniforme branco, por que
quando você pula ou ergue os braços , a camisa levanta e consigo ver sua
barriga e ela fica meio transparente por causa do suor e consigo ver o contorno
do seu corpo... – Disse com muita vergonha e lá estava o rubor de novo bem no
meio da minha cara. – Gosto do seu cabelo no sol, ele é escuro, mas no sol ele
fica com um brilho dourado e seus olhos ficam um tom mais claro. Quando você
sorri aparece essas covinhas fofas do lado do rosto e fica difícil não sorrir
também. E gosto quando você me ensina coisas e me mostra seus segredos que mais
ninguém sabe. Gosto do jeito que você anda e não me pergunte por que, eu não
sei. Acho que parece fino. Não magrelo quero dizer ! mas parece “classudo”
igual aqueles modelos que aparecem na tv.
Ele parecia meio surpreso, como se
esperasse que eu dissesse algo simples como, “ Você é bonito, tem um corpo
legal, serve” e ao invés eu disse tudo que me veio na cabeça apenas lembrando
dos momentos que nos conhecíamos, que era muito tempo. Mas nunca tinha reparado
antes . Era como ter a pessoa certa durante anos só para perceber depois que
era essa a pessoa. Meio sem jeito cruzei os braços sobre o peito e olhei para
ele para pegar alguma reação.
− Sua
vez. – Disse um pouco mais corajosa .
Ian virou suas costas para mim e olhou para
o teto.
− Gosto
do jeito que você se veste. Por que você não se veste como a maioria das
garotas que conheço . Não usa aqueles decotes que fazem o peito saltar e isso
faz com que eu preste mais atenção no seu corpo. – Ele se virou para mim.
−Quando
você cruza os braços assim por exemplo . Eu fico com uma ótima visão.
Eu descruzei os braços no mesmo segundo e
enfiei as mãos nos bolsos da minha calça jeans.
− Gosto
do jeito delicado que você come , do jeito delicado que você anda, seu jeito,
não sei... Não sei se gosto disso por que sou apaixonado por você ou se sou
apaixonado por você por que gosto do
seu jeito. Acho sexy quando você esta bravinha e tem uma resposta afiada quando
digo alguma coisa inútil. Gosto quando mexe o cabelo e entrelaça seus dedos uns
nos outros quando esta nervosa .
Quando ele terminou só ficamos nos olhando
esperando que o outro dissesse mais alguma coisa ou tomasse uma atitude , então
ele decidiu fazer , mas não foi exatamente o que eu tinha pensado. Ele pegou
minha mão e disse que tínhamos que sair dali e ir para outro lugar, então ele
me arrastou para o centro da loja onde o resto da turma estava.
− Temos
que sair daqui e pegar alguma arma ou ir para um lugar mais seguro. – Disse ele
na posição de líder.
− Não
podemos ! Aqueles loucos devem estar ai fora, nos esperando.
O outro
grupo se entreolhou numa troca silenciosa de informações. E Ian e eu fizemos o
mesmo . Eles não queriam sair e disso nos dois sabíamos. E qualquer coisa para eles seria motivo para
entrar numa briga .
− Posso falar com você a sós? – Perguntei a
Ian o pegando pela mão e o levando para longe sem ele responder .
− Eles
não vão querer ir conosco.
− Eu
sei . É melhor nós irmos com nosso grupo e eles podem ficar aqui . – Ian
concordou passando a mão pela minha cintura e me levou com ele de volta para
lá.
–
Nós vamos dar no pé, se quiserem.. fiquem. – Eles balançaram as cabeças ,
trocaram olhares e estava feito.
–
Nós vamos ficar .
Ian estava indo em direção a porta quando
pedi para ele esperar e fui pegar umas coisas uteis. Quando voltei, minha
amiga, Dylan e Ian estavam me esperando. Ian estava com o cenho franzido com
certeza imaginando o que diabos eu ia fazer e se desse tudo certo eu não
precisaria usar .
–
O que foi ? – Disse segurando meu braço de leve .
–
Peguei umas coisas uteis, para distração.
Dylan deu um sorriso malicioso e sussurrou
no ouvido da minha amiga . Ian percebeu que eu estava olhando e fez uma
carranca.
–
Para sua distração ou para os zumbis ali fora.
Eu
sorri para ele com a maior inocência o possível.
–
Zumbi, eu juro. – Ian pegou minha sacola, abriu e me olhou com duvidas.
–
Tem certeza que são para eles? – Eu fiz que sim com a cabeça e saímos sem mais
palavras. Olhamos para os lados quando saímos e só avistamos duas pessoas ou
zumbis do outro lado da rua. Um deles estava mordendo o outro e se esfregando
em seu corpo, minha bílis subiu com tal cena.
De repente ele parou e olhou para mim. E todos meus amigos perceberam.
–
Acho melhor dar no pé. – Dylan disse antes de correr para um carro e quebrar o
vidro do motorista . Ele não teve nenhuma dificuldade em abrir a porta , mas o
alarme disparou chamando a atenção de qualquer coisa a nossa volta. O zumbi
correu em nossa direção e Ian correu para dentro do carro e arrancou alguns
fios e mexeu em outros fazendo uma ligação direta. Eu procurei algo que
servisse na sacola e tirei um anel peniano com vibrador e o melhor era que ele
brilhava no escuro. Atirei na direção do zumbi e vi sua cabeça mudar de direção
enquanto o brinquedo caia do lado de seu corpo. Ele pegou o brinquedo e começou
a olhar e sorrir e quando o brinquedo parou todos já estavam dentro do carro e
Ian já estava partindo.
–
Foi isso que você foi pegar ? Brinquedos? – Dylan perguntou.
–
É uma ótima distração. – Ian disse em minha defesa. – Mesmo eu achando que não
ia funcionar. – E com isso eu ri.
–
Peguei meus pais zumbis se atacando enquanto transavam, acredite. Isso ia os
distrair.
Ian foi para a estrada principal em direção
a minha casa.
–
Vamos pegar umas coisas suas , ok? Você vai ficar em casa. – Não era um pedido,
ele estava apenas me avisando que eu ia e ponto final para a casa dele.
–
Tudo bem . – Concordei . – Tem um quarto especial para mim ou vai me colocar no
seu quarto? – Perguntei brincando, mas ele pareceu levar a ideia em
consideração .
–
Onde você quiser.
Minha amiga se mexeu desconfortável e acabei
vindo em sua defesa.
–
Eu te empresto umas roupas, não se preocupe. E tenho umas roupas suas em casa .
– Disse a ela e Dylan se intrometeu na conversa.
–
Yeah! Você pode ficar no meu quarto se quiser. – E ela fez uma careta.
–
Nem como zumbi cara, mas obrigado pelo hospitalidade .
Ian deu um sorriso discreto e colocou sua mão
em minha perna enquanto dirigia e não demorou muito para chegar a minha casa e
pegar umas coisas. Pegamos todos os mantimentos já que não sabíamos se
poderíamos voltar ali caso a coisa ficasse mais seria e pegamos produtos de
higiene e minhas roupas, Dylan ajudou, mas Ian o tirou do quarto quando viu o
irmão mexendo nas minhas calcinhas e
falou para ele ficar de olho na garagem
caso algo decidisse arrebentar o portão. Colocamos todas as roupas e pertences
que achávamos uteis e colocamos no carro
roubado. Estava apertado, mas ninguém reclamou e fomos para casa de Dylan e Ian
. Quando chegamos lá minha amiga abriu levemente a boca com a surpresa , na
verdade... dificilmente eles convidavam alguém para ir a casa deles, então
ninguém sabia como era. Ian estava com o controle remoto do portão no bolso, o
apertou e deixou o carro ir para dentro. Passamos a noite arrumando as coisas e
colocando minhas coisas num quarto onde eu e minha amiga podíamos ficar a
vontade, tomamos banho e Ian e Dylan ligaram todos os alarmes . Eu tinha
perguntado a ele o que aconteceria se o alarme disparasse e se não ia chamar
mais a atenção para nós, mas ele me disse que esse tipo de alarme era mais
silencioso e que se algo tentasse entrar a casa seria alarmada e todas as
entradas seriam fechadas e os brinquedos de choque que estavam escondidos lá
fora seriam ligados . O quarto onde estávamos era mais do que bom e muito
espaçoso, a mãe dos meninos tinha cuidado de cada detalhe de casa fazendo parecer
clássica e um pouco gótica . As camas eram enormes e todos os moveis pareciam
únicos em sua forma e estávamos na parte mais alta da casa, então nada ia pular
pela nossa janela .Quando finalmente todos estavam a pontos de desmaiar de
cansaço minha amiga decidiu conversar um pouco antes de dormir.
–
Você acha que eles estão loucos ou que são zumbis de verdade ? – Ela perguntou
enquanto se cobria a minha frente. A cama dela ficava virada em frente a minha
.
–
Eles gostam de comer os outros em vários aspectos, mas não da para ter certeza
já que não vi nenhum difundo andante lá fora. Só vimos pessoas com alguma pele
faltando.
Nos
dormimos em seguida, mas logo acordei de madrugada e fui ao quarto de Ian. Ele
estava acordando vendo tv, mas quando ele viu que eu estava entrando ele mudou
de canal.
–
Algum problema? – Ele perguntou preocupado e se arrumando entre as cobertas e
dando espaço para me deitar ao lado dele. Eu fiz que não e disse que não
conseguia dormir. – Vai passar quando.. não sei. Descobrirmos o quê é isso
tudo.
–
Eu não sei se quero descobrir realmente. É só... complicado. – Disse sem saber
o que dizer. Se os jornais dissessem que
era doença eu ficaria em choque por causa dos meus pais, se dissessem que era
algo desconhecido... provavelmente haveria covas vazias nos próximos dias. A única
coisa que eu tinha certeza era que alguns lunático diria que o governo daria um
“jeito”. Como evacuar a cidade ou jogar uma bomba em todos para ver se na próxima
cidade isso não se repetiria.
Ian me abraçou e me acalmou apenas com sua
presença.
–
Não vamos nos preocupar agora. Estamos seguros. – Disse ele olhando para mim. –
Amanhã vamos ver o jornal e vou ouvir o rádio da policia para ver se acho
alguma coisa de diferente.
Eu não pude deixar de erguer uma sobrancelha
de espanto para ele.
–
Rádio da policia ? – Perguntei e ele fez que sim quase orgulhoso.
–
Meu tio era chefe de policia antes de se aposentar, e quando ele passou um
tempo aqui deixou umas coisinhas...
–
Tipo algemas? – Perguntei para quebrar o gelo e ele riu.
–
Eu adoraria uma algema agora, mas é melhor não arriscar. Podemos precisar dos
braços.
Ele tinha razão, mas as palavras dele
revelavam que ele não estava se sentindo 100% seguro como ele queria transmitir
para mim. Tudo que podíamos fazer naquele momento era dormir, esperar e rezar
para seja lá o que for que esteja acontecendo... que tenha um jeito de ser
parado.
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