Adoro um bom conto sobrenatural , então separei esse pra postar aqui... espero que gostem! Encontrei numa revista de vampiro no meio das minhas coisas.
"Eu morreria por você
Na guerra ou na paz
Sem saber como sou capaz"
(Ira!)
Nuvens negras se avolumavam no horizonte. Hugo olhou à volta, à procura de abrigo. O vento soprava forte, uivando. Ao longe, numa região abandonada do horizonte, parecia haver uma casa. Talvez conseguisse chegar a tempo, se corresse.
Amaldiçoou a mochila, que pesava nas costas. Os tênis também estavam gastos na sola, dificultando a corrida.
Atrapalhado pelo cabelo esvoaçante, ele olhou para trás: as nuvens compactas continuavam avançando como uma nave gigantesca, pronta para pousar. Houve um silêncio só quebrado pela respiração ofegante e pelo trotar da corrida. A natureza permaneceu assim, muda, até que começassem a cair os primeiros pingos de chuva.
Hugo já estava parcialmente molhado quando alcançou a varanda do casarão antigo. Encostou ofegante em uma das vigas que sustentavam o teto. A madeira rangeu. Ele respirou fundo, inspirando pelas narinas e soltando pela boca. Fez isso até que o coração diminuísse as batidas. Só depois entrou na casa.
O casarão devia ter sido construído há bem mais de um século. Talvez dois. Incrivelmente , podia-se observar ainda alguns móveis não destruídos pelo tempo. Viu uma pintura, um retrato oval pendurado na parede de uma das salas. Representava uma mulher incrivelmente branca, de uma beleza angelical. Tinha lábios pálidos e olhos de morta. Teria ficado horas lá, observando o retrato, se não fosse a necessidade mais preeminentes. Tinha fome.
Andando com cuidado, temeroso de que o chão pudesse ceder com seus passos, Hugo percorreu vários cômodos até chegar à cozinha. Havia um fogão à lenha no compartimento. Examinou-o. No meio da poeira e das telhas de aranha a achou um livro. Tinha uma parte da capa e da folha que estavam queimados, mas o miolo se conservara quase que completamente intacto. As páginas, num papel grosso, não ultrapassavam 50 e a maior parte ainda estava em branco, como pôde verificar ao acender um fósforo. Em todo caso, era providencial. O papel viria bem a calhar na confecção da fogueira.
Hugo recolheu alguns restos de madeira dos móveis e pôs ao lado do fogão.
Desfez alguns, os mais podres, com um canivete. Arrancou algumas páginas do livro. Amassou o papel e rodeou-o de pequenos gravetos. Inflamou-os rapidamente com um fósforo que tirou da mochila. Continuou arrancado paginas e alimentando o fogo até que ele se tomasse forte.
Lá fora a chuva continuava. Raios tremendos iluminavam a cozinha atráves da janela de madeira destroçada. Hugo retirou da mochila uma raiz de mandioca, descascou-a e colocou sobre o fogo. Durante dias aquilo havia sido seu alimento, desde que roubara as raízes numa plantação de beira de estrada.
Enquanto esperava que a mandioca assasse, sentou numa cadeira. Foi quando seus olhos deram com o livro. Observou que não havia mexido na parte manuscrita. Assim, pegou-o, afim de se distrair enquanto esperava. Como já percebera antes, apenas algumas poucas páginas estavam escritas, numa letra inconstante.
Leu:
Conheci Elizabeth enquanto estudava na Europa. Fora me apresentada por uns amigos. Encantei-me com ela. Sua pele era de uma brancura indizível. Tinha cabelos negros, olhos da mesma cor e era muito magra. Mas, AH! Que bela e que misteriosa que era! Ver seus lábios brancos se abrindo era um deleite para poucos. Pouco falava e dificilmente sorria.
Apesar da timidez de ambos, enamorei-me dela e decidi trazê-la comigo para o Brasil quando tive notícias da morte de meu pai. Que eu soubesse, não havia qualquer impedimento da parte de Elizabeth...até então vivera em pequenas pensões, sozinha. Não tinha família, ou, se tivesse, deviam ter se esquecido dela. O fato era que se alegrou com o convite. Estávamos apaixonados e a perspectiva de vivermos juntos deixavamos imensamente felizes.
Já na viagem arrependi-me. Elizabeth enjoara com o mar e passava quase todo o tempo no camarote, de cama. O navio em que viajávamos leva-va também uma carga de cavalos. Eram animais de raça, encomendados por algum fazendeiro rico do império. Foi com eles que aconteceu o único incidente digno de nota de toda a jornada.
Certa noite, agitaram-se todos no porão. Relinchavam e batiam os cascos na madeira do návio. A algazarra chamou a atenção de toda tripulação. Vários marinheiros desceram rápidamente para o porão.
Quando chegaram lá o barulho diminuíra. Os animais, no entanto, ainda estavam nervosos, ao redor de um deles caído no chão. Estava morto. Os pêlos do pescoço e a parte da cabeça estavam encharcados de sangue. Foram cogitados milhares de hipóteses para a morte do animal. Talvez estivesse doente e batera no casco do návio, talvez houvesse sido atacado pelos outros... o mistério, entretanto, persistiu.
Estranhamente, Elizabeth passou a se sentir melhor desse dia em diante. Fazia até caminhadas pelo convés do návio, algo de todo inconcebível há algum tempo.
Desembarcamos no Rio de Janeiro e levamos ainda algum tempo viajando até esta fazenda. Minha mãe vestida de luto, esperava-nos. Menti para ela que havia me casado com Elizabeth em Portugal, mas nem isso foi capaz de convencê-la. Tinha uma estranha aversão por minha "esposa ". Persignava -se toda vez que a via.
Talvez já adivinhasse a própria morte. Desci ao túmulo um mês depois de ter checado à fazenda. Tinha temores que Elizabeth lhe seguisse o caminho. Ela comia pouco e estava cada vez mais magra. Foi por esses tempos que ocorreu um fato revelador. Um dos escravos se rebelava contra o capataz, atacando -o. O pobre homem teria morrido, se não fosse a providencial ajuda de outros empregados.
Achei que fazia bem em dar uma demonstração de força e garantir minha autoridade. Mandei prender o escravo ao pelourinho e fiz com que o chicoteassem. O negro aguentava firme, mas, à medida que as tiras de couro começaram a arrancar espirros de sangue, entrou a gritar de dor.
Elizabeth assistia tudo impassível, embora seus olhos brilhassem como se tivessem grande interesse no episódio. De madrugada, estranhei que Elizabeth não estivesse ao meu lado. Procurando por ela, assomei à janela e percebi um vulto branco se movimentando lá fora. Apressei -me. Desci as escadas e abri as portas da frente da casa -grande. O que vi me deixou paralisado.
Elizabeth estava lá fora, junto ao pelourinho. Ela lambia as feridas ensangüentadas do negro. Senti nojo.
Dominando meu ciúme, lembrei -me do episódio do návio, com os cavalos e de como ela se sentira bem no dia seguinte. Antigas lendas me vieram à mente. Histórias de pessoas que necessitavam de sangue...
Algum tempo depois, ela voltou para casa. Fingi que estava dormindo. Minhas suspeitas se confirmaram no dia seguinte : Elizabeth estava exultante, como se tivesse renascido.
Esperei até que anoitecesse. Quando nos preparávamos para dormir, retirei da gaveta uma adaga e cortei próximo ao pulso. Aproximei -me de Elizabeth, estendendo -lhe o ferimento. Ela inicialmente fingiu repulsa, mas seus olhos brilhavam. Como que dominada por um instinto indomável, Elizabeth puxou meu braço e passou a lamber o corte. Jamais a vi tão feliz, com o liquido rubro que a escorrer -lhe da boca. Nos amamos como nunca.
A partir de então, todas as noites realizávamos o mesmo ritual. Entretanto, o que para ela era vida, ia se tornando morte para mim. Percebi, assim que meu sangue jamais seria suficiente. Embora a medida me causasse repugnância, passei a ordenar que toda noite me fosse trazida uma escrava ou escravo. A pobre criatura era amordaçada, amarrada e vendada. Eu fazia uma incisão em seu braço e Elizabeth lambia até que a pequena fonte cessasse.
Tais coisas fizeram com que os negros tomassem um medo místico da casa grande. Hoje, quando escrevo essas palavras, já se passaram anos que chegamos aqui. Estou assustado. Os negros andam dominados por um medo incontrolável.
Aguardo a revolta. No meio da noite, de qualquer noite, isso acontecerá. Talvez nos matem, talvez destruam o casarão. E estou impotente. Boa parte dos feitores já se foi e não consigo mais convencer outros trabalharem para mim.
Enquanto aguardo o fim, lembro de um tempo que se perdeu na memória. Uma era de felicidades e belezas sem fim. Isso não poderá ser queimado ou destruído. Gostaria apenas de estar certo que Elizabeth sobreviverá, como tem sobrevivido até aqui.... mas, mesmo meu corpo destruído, o meu amor por ela jamais morrerá e talvez isso a salve. É O QUE PEÇO À DEUS!!!!!
Conheci Elizabeth enquanto estudava na Europa. Fora me apresentada por uns amigos. Encantei-me com ela. Sua pele era de uma brancura indizível. Tinha cabelos negros, olhos da mesma cor e era muito magra. Mas, AH! Que bela e que misteriosa que era! Ver seus lábios brancos se abrindo era um deleite para poucos. Pouco falava e dificilmente sorria.
Apesar da timidez de ambos, enamorei-me dela e decidi trazê-la comigo para o Brasil quando tive notícias da morte de meu pai. Que eu soubesse, não havia qualquer impedimento da parte de Elizabeth...até então vivera em pequenas pensões, sozinha. Não tinha família, ou, se tivesse, deviam ter se esquecido dela. O fato era que se alegrou com o convite. Estávamos apaixonados e a perspectiva de vivermos juntos deixavamos imensamente felizes.
Já na viagem arrependi-me. Elizabeth enjoara com o mar e passava quase todo o tempo no camarote, de cama. O navio em que viajávamos leva-va também uma carga de cavalos. Eram animais de raça, encomendados por algum fazendeiro rico do império. Foi com eles que aconteceu o único incidente digno de nota de toda a jornada.
Certa noite, agitaram-se todos no porão. Relinchavam e batiam os cascos na madeira do návio. A algazarra chamou a atenção de toda tripulação. Vários marinheiros desceram rápidamente para o porão.
Quando chegaram lá o barulho diminuíra. Os animais, no entanto, ainda estavam nervosos, ao redor de um deles caído no chão. Estava morto. Os pêlos do pescoço e a parte da cabeça estavam encharcados de sangue. Foram cogitados milhares de hipóteses para a morte do animal. Talvez estivesse doente e batera no casco do návio, talvez houvesse sido atacado pelos outros... o mistério, entretanto, persistiu.
Estranhamente, Elizabeth passou a se sentir melhor desse dia em diante. Fazia até caminhadas pelo convés do návio, algo de todo inconcebível há algum tempo.
Desembarcamos no Rio de Janeiro e levamos ainda algum tempo viajando até esta fazenda. Minha mãe vestida de luto, esperava-nos. Menti para ela que havia me casado com Elizabeth em Portugal, mas nem isso foi capaz de convencê-la. Tinha uma estranha aversão por minha "esposa ". Persignava -se toda vez que a via.
Talvez já adivinhasse a própria morte. Desci ao túmulo um mês depois de ter checado à fazenda. Tinha temores que Elizabeth lhe seguisse o caminho. Ela comia pouco e estava cada vez mais magra. Foi por esses tempos que ocorreu um fato revelador. Um dos escravos se rebelava contra o capataz, atacando -o. O pobre homem teria morrido, se não fosse a providencial ajuda de outros empregados.
Achei que fazia bem em dar uma demonstração de força e garantir minha autoridade. Mandei prender o escravo ao pelourinho e fiz com que o chicoteassem. O negro aguentava firme, mas, à medida que as tiras de couro começaram a arrancar espirros de sangue, entrou a gritar de dor.
Elizabeth assistia tudo impassível, embora seus olhos brilhassem como se tivessem grande interesse no episódio. De madrugada, estranhei que Elizabeth não estivesse ao meu lado. Procurando por ela, assomei à janela e percebi um vulto branco se movimentando lá fora. Apressei -me. Desci as escadas e abri as portas da frente da casa -grande. O que vi me deixou paralisado.
Elizabeth estava lá fora, junto ao pelourinho. Ela lambia as feridas ensangüentadas do negro. Senti nojo.
Dominando meu ciúme, lembrei -me do episódio do návio, com os cavalos e de como ela se sentira bem no dia seguinte. Antigas lendas me vieram à mente. Histórias de pessoas que necessitavam de sangue...
Algum tempo depois, ela voltou para casa. Fingi que estava dormindo. Minhas suspeitas se confirmaram no dia seguinte : Elizabeth estava exultante, como se tivesse renascido.
Esperei até que anoitecesse. Quando nos preparávamos para dormir, retirei da gaveta uma adaga e cortei próximo ao pulso. Aproximei -me de Elizabeth, estendendo -lhe o ferimento. Ela inicialmente fingiu repulsa, mas seus olhos brilhavam. Como que dominada por um instinto indomável, Elizabeth puxou meu braço e passou a lamber o corte. Jamais a vi tão feliz, com o liquido rubro que a escorrer -lhe da boca. Nos amamos como nunca.
A partir de então, todas as noites realizávamos o mesmo ritual. Entretanto, o que para ela era vida, ia se tornando morte para mim. Percebi, assim que meu sangue jamais seria suficiente. Embora a medida me causasse repugnância, passei a ordenar que toda noite me fosse trazida uma escrava ou escravo. A pobre criatura era amordaçada, amarrada e vendada. Eu fazia uma incisão em seu braço e Elizabeth lambia até que a pequena fonte cessasse.
Tais coisas fizeram com que os negros tomassem um medo místico da casa grande. Hoje, quando escrevo essas palavras, já se passaram anos que chegamos aqui. Estou assustado. Os negros andam dominados por um medo incontrolável.
Aguardo a revolta. No meio da noite, de qualquer noite, isso acontecerá. Talvez nos matem, talvez destruam o casarão. E estou impotente. Boa parte dos feitores já se foi e não consigo mais convencer outros trabalharem para mim.
Enquanto aguardo o fim, lembro de um tempo que se perdeu na memória. Uma era de felicidades e belezas sem fim. Isso não poderá ser queimado ou destruído. Gostaria apenas de estar certo que Elizabeth sobreviverá, como tem sobrevivido até aqui.... mas, mesmo meu corpo destruído, o meu amor por ela jamais morrerá e talvez isso a salve. É O QUE PEÇO À DEUS!!!!!
Hugo fechou o livro e cerrou os olhos. Havia ainda algumas palavras borradas ou queimadas. Mas já bastava. Lá gora a tempestade diminuíra. Agora podia -se ouvir o barulho das goteiras e das lenhas estalando no fogo.
Estava assim, absorto, quando imaginou ouvir gemidos. Abriu os olhos, assustado. A luz vermelha do fogo tingia de sangue as paredes. Nada. Nenhum som estranho.
Levantou -se. Usou o canivete para retirar a mandioca do fogo. Então ouviu novamente o gemido alto e forte vindo do porão. O susto fez com que tocasse na grelha e queimasse a mão. Hugo levou a mão à boca. Permaneceu assim algum tempo, tentando identificar o som. Ao sair da cozinha, o canivete na mão, percebeu que os gemidos aumentavam. Descobriu, ao lado do armário, um buraco.
Recuou até a cozinha, incomodado pela dor da ferida e retirou da mochila alguns trapos. Enrolou-os num pedaço de madeira e aproximou do fogo. Depois voltou ao buraco. Iluminando -o com a tocha, percebeu que havia uma escada. Desceu os degraus levantando a tocha acima da cabeça e segurando na borda de madeira. O chão, de terra batida, era firme. Os gemidos continuavam, agora mais fortes. Pareciam, agora, formar palavras. Ratos guinchavam, correndo de um lado para o outro.
Houve um movimento atrás de uma pilastra. Um vulto branco se encolhia no chão. Aproximando a tocha, Hugo persebeu a pele alva e os cabelos negros. Elizabeth levantou os olhos e implorou :
- SANGUE!!!....
Gostei...
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